Plataforma ouro

O que não lhe contam sobre o ouro

Em qualquer contexto, a extração do ouro é uma atividade insustentável e ambientalmente danosa. E quem compra ouro ilegal, mesmo sem saber, faz parte de uma teia criminosa, que movimenta um mercado bilionário e deixa um rastro de destruição.

Mais precisamente na Amazônia.

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Afinal, quem são os principais personagens e quais os desfechos possíveis para essa trama?

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229 toneladas de ouro podem ser ilegais

Entre 2015 e 2020, o Brasil comercializou 229 toneladas de ouro com indícios de ilegalidade. Isso é quase a metade de todo o ouro produzido e exportado pelo país.

Veja os números.

93

toneladas vieram de “títulos fantasmas”, onde não havia indícios de extração ocorrendo

63

toneladas foram comercializadas sem as informações sobre os títulos de origem

42

toneladas vieram de títulos onde havia indícios de extração para além dos limites permitidos

22

toneladas foram exportadas sem nenhum registro na produção oficial

9

toneladas vieram de títulos que avançam sobre Terras Indígenas e Unidades de Conservação

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Caminhos que o ouro percorre

No Brasil, o ouro pode ser extraído por grandes mineradoras ou pelos garimpeiros. Veja os caminhos que o ouro percorre até chegar a você.

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1

Garimpo

regime de permissão de lavra garimpeira

Garimpos

Quando sai dos garimpos, o ouro é tratado como ativo financeiro.

Os garimpeiros precisam vender o ouro para uma DTVM, instituição autorizada a funcionar pelo Banco Central.

DTVM - Distribuidora de Títulos e Valores Imobiliários

Na DTVM, os garimpeiros preenchem formulários – que podem ser em papel – indicando onde ocorreu a extração. Nenhum comprovante é exigido.

Transformação

Transformado em barras, o ouro é guardado por bancos e investidores em todo o mundo.Transformado em joias, o ouro também chega ao consumidor.

3

Plataforma

Plataforma OuroPlataforma Ouro

Fundição

Joalherias

Instituições financeiras Banco/Bolsas

Pessoa física

Tradings

Exportações

2

Mineradoras

regime de concessão de lavra

Mineradoras

As grandes mineradoras podem refinar o ouro e vendê-lo ou exportá-lo para os mais diversos usos.

A lavagem do ouro

No Brasil, os garimpos de ouro estão na Amazônia e esse ouro é obrigatoriamente vendido para as DTVMs. Ao vender o ouro para uma DTVM, os garimpeiros preenchem um formulário com seus dados e declaram o local de extração do metal. Não há checagens, nem documentos de comprovação da origem. A lei, neste caso, reconhece a declaração com base no princípio da boa-fé.

Em pleno século 21, esses formulários são preenchidos em papel. Se o ouro foi extraído ilegalmente, mas declarado como legal no momento da venda, está concluída a lavagem.

Simples assim.

Rastreabilidade

Já seria possível monitorar o ouro desde a extração até o consumidor. O Projeto de Lei 836/2021, em tramitação no Senado, traz as bases para isso, definindo documentações de transporte e origem, notas fiscais eletrônicas e registros digitais. De autoria do Senador Fabiano Contarato, o PL foi elaborado com apoio técnico do Instituto Escolhas.

Novas tecnologias, como a blockchain, também podem ser utilizadas para garantir a confiabilidade e a transparência dos registros.

A adoção obrigatória da rastreabilidade do ouro brasileiro é urgente para conter a ilegalidade.

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Balsas de garimpo no rio Parima na Terra Indigena Yanomami./foto Bruno Kelly, Amazônia Real

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Do volume total de ouro com indícios de ilegalidade, mais da metade veio da Amazônia

54%

Principalmente do Mato Grosso:

26%

E do Pará:

24%

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/foto Ministerio da Defesa, Porto Velho

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Do volume total de ouro com indícios de ilegalidade, mais da metade veio da Amazônia

54%

Principalmente do Mato Grosso:

26%

E do Pará:

24%

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/foto Ministerio da Defesa, Porto Velho

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Do volume total de ouro com indícios de ilegalidade, mais da metade veio da Amazônia

54%

Principalmente do Mato Grosso:

26%

E do Pará:

24%

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Garimpo no rio Uraricouera. /foto Bruno Kelly, Amazônia Real

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Do volume total de ouro com indícios de ilegalidade, mais da metade veio da Amazônia

54%

Principalmente do Mato Grosso:

26%

E do Pará:

24%

Permissão para destruir

Enquanto o governo se omite no combate ao crime e o setor continua operando na base da boa-fé dos comercializadores, toda a sociedade perde.

A floresta amazônica tem sido destruída em velocidade alarmante. A violência contra os povos indígenas e seus territórios vem aumentando. E a contaminação de rios, peixes e pessoas por mercúrio já é uma emergência de saúde pública.

A mineração avança sobre a floresta

Nos últimos 6 anos, o desmatamento causado pela mineração na Amazônia cresceu quase 7 vezes. Em 2015, foram perdidos 18 k㎡ de floresta e, em 2021, a área
desmatada chegou a 121 k㎡.

Guardiões da floresta, os povos indígenas têm lutado contra o avanço das atividades ilegais em seus territórios, tentando se fazer escutar na batalha contra o setor da mineração. Infelizmente, seus direitos têm sido usurpados por quem deveria protegê-los.

O Projeto de Lei 191, apresentado ao Congresso pelo presidente Jair Bolsonaro em 2020, quer liberar a mineração nas Terras Indígenas sem consultar os povos, como exige a Constituição Federal e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.

Invasões, violência e contaminações

No dia 10 de maio de 2021, duas crianças Yanomami se afogaram após fugirem dos tiros de garimpeiros. Quinze dias depois, a casa da liderança Munduruku, Maria Leusa, foi incendiada. No dia 12 de outubro do mesmo ano, outras duas crianças foram sugadas por dragas de garimpo.

Estudos comprovam que as populações indígenas possuem altos níveis de contaminação por mercúrio, com efeitos graves sobre a saúde. Todas essas tragédias têm uma única motivação: a extração do ouro.

Do volume total de ouro com indícios de ilegalidade, mais da metade veio da Amazônia (54%). Principalmente do Mato Grosso (26%) e do Pará (24%).

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Deslize para conhecer mais.

98 toneladas de ouro exportadas em 2020

O ouro brasileiro foi comprado majoritariamente por empresas do Canadá (42%), da Suíça (20%) e do Reino Unido (11%) e representa o principal produto brasileiro no comércio bilateral com esses países – que, portanto, estão com alto risco de exposição à ilegalidade.

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Passe o mouse sobre os círculos dos países para descobrir o volume de ouro exportado para cada um.

  • Canadá

  • Suíça

  • Reino Unido

  • Emirados Árabes Unidos

  • Itália

  • índia

  • Bélgica

  • Estados Unidos

  • Turquia

  • Alemanha

  • Hong Kong

  • África do Sul

  • Israel

40,933

Toneladas exportadas em 2020

O garimpo é industrial

A legislação diferencia a mineração industrial das práticas de garimpo, mas a verdade é que ambas usam maquinário pesado e estão organizadas de forma industrial. Tal distinção dificulta os controles ambientais e trabalhistas, pois a estratégia do garimpo é se apresentar como uma atividade pequena, executada por indivíduos em busca de sustento. A realidade é bem diferente.

"O tratamento legislativo dado ao ouro e, em especial, ao garimpo, ainda é refém da imagem idealizada do garimpeiro – aquela imagem acompanhada da picareta e da bateia –, erigindo-se, assim, proteções que não fazem sentido diante das efetivas características empresariais dos empreendimentos auríferos modernos", como afirma o próprio Ministério Público*.

Não por acaso, a maior parceira da Hyundai no Brasil tem revendedora justamente na cidade de Itaituba, no Pará, o polo do ouro ilegal no país. De lá, saem escavadeiras avaliadas em até 1 milhão de reais**.

Como transformar essa realidade?

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Deslize para conhecer mais.

Retirar de circulação o ouro ilegal brasileiro não é tarefa fácil, mas é possível. Um sistema de rastreabilidade de origem pode monitorar o ouro desde a extração até o consumidor final, valendo-se de tecnologias como a blockchain, dando mais transparência ao setor.

Enquanto isso não mudar, o ouro que circula por joalherias, bancos e cofres de todo o mundo continuará destruindo o meio ambiente e as vidas de milhares de brasileiros.